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Nova exposição da Fundação Iberê Camargo celebra os 110 anos do artista e a sua ligação com Restinga Sêca

As lembranças da infância de Iberê Camargo, suas visitas regulares à região e as memórias marcadas em desenhos e em pinturas serão apresentadas na exposição “Iberê 110 Anos – Minha Restinga Sêca”, que abre no próximo sábado, dia 23, às 14h, na Fundação Iberê, em Porto Alegra. Organizada por Gustavo Possamai, responsável pelo acervo do artista, com apoio da Prefeitura de Restinga Sêca, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, a mostra traz um recorte de obras que fazem referência à sua cidade natal como Crepúsculo da Restinga Sêca, As idiotas, Tudo te é falso e inútil, Ciclistas e Núcleo, além de desenhos, objetos, manuscritos e fotografias.

Iberê Camargo nasceu no dia 18 de novembro de 1914, em Restinga Sêca, cidade localizada na região central do Rio Grande do Sul. Filho dos funcionários da Viação Férrea, Adelino Alves de Camargo (agente ferroviário) e Doralice Bassani de Camargo (telegrafista), Iberê teve naquela paisagem de desolação um exercício do olhar e princípios morais que nortearam seu pensamento. 

Restinga Sêca não passava de um vilarejo, onde o tempo para o pequeno Iberê passava debaixo da mesa da cozinha da casa da família desenhando. “Meus pais eram funcionários modestos, agentes ferroviários, que não se empenharam em ser promovidos porque se afeiçoaram ao lugar, às pessoas, e não queriam sair. Faziam de tudo para não ser removidos. Para que um ferroviário naquela ocasião tivesse um melhor posto, era preciso que fosse para uma estação mais importante. Mas, como já estavam velhos, tinham seus amigos e estavam acostumados com aquele vazio da campanha, preferiam ficar, prejudicando muito a aposentadoria”, disse o artista em entrevista ao cineasta Joel Pizzini.

Com aproximadamente 5 ou 6 anos, Iberê Camargo mudou de cidade. Mas as lembranças, a paisagem e a estação ferroviária da cidade natal ficaram impressas de um modo indelével em sua trajetória: “Nunca fui lúdico na minha vida, nem quando criança. Sempre fui só. Não sou uma pessoa de muito chão, de muita caminhada. Conheço esses lugares que cito. Então, a gente faz um resumo e cria uma paisagem interior, que é a do ambiente onde a gente nasceu. É preciso saber que a experiência de engolir o primeiro gole de ar e ver a primeira luz do sol é muito importante. Isso marca.”

Para o crítico francês Jacques Leenhardt, membro do Conselho Curatorial da Fundação Iberê entre 2010 e 2014, “entra-se na obra de Iberê Camargo tendo a cronologia como guia. A relação com o passado, como um mundo feliz e desaparecido, dá sua nota de melancolia a uma das buscas pictóricas mais consequentes e solitárias da pintura brasileira dos últimos cinquenta anos. Sem dúvida, a terra da infância, aquela região que envolve Restinga Sêca onde Iberê nasceu em 1914 é uma terra dura de onde o pintor descreverá em vários comentários o aspecto desértico e abandonado. Entretanto, nessas lembranças pessoais, ela guarda o calor do espaço familiar: a casa e a estação férrea onde trabalhava seu pai. Sublinhando a importância do céu e do horizonte, essa paisagem de solidão é marcada igualmente pelas linhas formadas pelos trilhos perdendo-se na distância e pelos fios do telégrafo onde trabalhava sua mãe. Um mundo isolado e voltado para dentro, mas ao mesmo tempo ligado a outros mundos por essas linhas de fuga que os desenhos de Iberê não cessarão nunca de reproduzir”.

Para Thais Danzmann Chaves, pesquisadora da memória do artista plástico e diretora de Cultura e Turismo de Restinga Sêca, a exposição, dialoga também com a dissertação de mestrado em Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, intitulada Educação Patrimonial e Identidade: Reencontro da Comunidade de Restinga Sêca com Iberê Camargo, e poderá aprofundar a compreensão do público sobre o vínculo do artista com sua terra natal. “O material como fontes primárias, desenhos e depoimentos com memorialistas que tiveram contato com Iberê foram prospectados junto à comunidade e marca o reencontro com a vida e a obra do pintor. O trabalho teve início em 2018 e transita por um território pouco conhecido, apresentando possibilidades múltiplas de educação, de arte e de memória, e tendo como transversalidades as questões do patrimônio cultural local e educação patrimonial”.

SERVIÇO

Exposição: Iberê 110 anos – Minha Restinga Sêca

Organização: Gustavo Possamai
Apoio: Prefeitura de Restinga Sêca

Abertura: 23 de novembro | Sábado | 14h | Átrio

Visitação: Até 9 de março de 2024 | Domingo

Endereço: Avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal – Porto Alegre

No dia da abertura, a entrada é gratuita

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Rádio Integração FM 98,5

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