Por Thais Danzmann Chaves – professora
A busca em querer saber mais e mais sobre a identidade, história e memórias desse filho ilustre de Restinga Sêca, transcende quando tentemos reconhecer o que caracteriza fundamentalmente a pintura de Iberê Camargo, acompanhando no artista o que chamamos o processo de criação. Há inicialmente uma primeira concepção figurativa, a procura de uma arte tocável que encontrará no não-figurativo sua expressão mais alta e realizar-se-á finalmente no gestual.

Iberê Camargo tem a cautela de não se fiar inteiramente no demonstrativo. Ele sabia que em arte as melhores realizações ultrapassam o raciocínio dedutivo. Sentimo-lo como que impaciente para viver sua arte. Ele teve também o dom de insinuar aquilo que gostaria de evocar. Sua pintura é virulenta, às vezes mesmo vulcânica como uma lava, cuja torrente chega até nós.
Tudo em Iberê Camargo teve toques de energia, drama, emoção à flor da pele. “Eu não pinto modelos, pinto emoções”, afirma o artista. O quadro é sempre um abismo emocional, uma angústia sem fim. Mais de uma vez ele se comparou a Sísifo (na mitologia grega, Sísifo, filho do Rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais). O ilimitado respeito pela alta cultura, a admiração incontida pelos mestres da tradição, a consciência plena da necessidade e critério na formação artística foi a tarefa que Iberê se impõe para se tornar pintor.
“Minha gravura e minha pintura sempre caminharam de forma paralela. Nem podia ser desligada. Porque eu sempre pinto o agora. Mas como não sou um saco vazio, esse agora tem muita coisa dentro, que vem à tona, que participa do hoje. Quando eu pinto o agora, estou pintando o ontem e já abrindo espaço para o futuro. É por isso que eu digo que ninguém pode caminhar sem colocar um passo na frente e outro atrás. Esse negócio de caminhar pulando não dá. Por isso que esse desejo de ruptura com as coisas é como querer tirar uma perna. Vai caminhar pulando como um sapo?” (fala de Iberê Camargo às vésperas dos 80 anos, o pintor é homenageado pela Bienal, escreve livro de memórias e planeja voltar às paisagens que fazia nos anos 40. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 mar. 1994.)
Restinga Sêca é um lugar privilegiado, terra mãe do filho ilustre, Iberê Massani de Camargo. E sob o amanhecer do dia 18 de novembro, junto ao cantar dos pássaros e no fundar do pôr do sol na imensidão desse horizonte, te desejamos Feliz Aniversário! Parabéns aos seus 105 anos, Iberê Camargo!

Tela ‘No vento e na terra I’, pintado por Iberê em 1991