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Um dia eu também conheci Notre Dame

Cineasta Ricardo Zimmer e, ao fundo, a Catedral de Notre Dame

Era 3 de outubro de 2005, outono e frio intenso como é típico nessa época na França. Eu chegava em Paris de uma longa viagem de São Paulo/Paris, sem conexão,  para pegar o trem e ir até o sul da França, na cidade de San Jean Pied de Port, onde iniciaria o Caminho de Santiago de Compostella pelas terras Quixotescas, da Espanha. 

Antes de iniciar essa façanha, o roteiro programado era visitar primeiro a Cidade Luz, um sonho antigo que não abriria mão. Por isso, reservei o dia inteiro para visitar a Torre Eiffel e a magnífica Catedral de Notre Dame. Fiz a pé todo trajeto até a catedral, como um turista curioso e com sede de visitar tudo que for possível fazer.

Aliado a um pequeno mapa, fui circundando o Rio Sena e não perdendo as linhas típicas da cidade imponente e que preserva seus prédios clássicos e elegantes, onde a história de cada um daqueles casarios remete a um bálsamo de nostalgia e romantismo, afinal a cidade de Paris é única e tem seu charme.  Enfim, cheguei até a ilha onde o imponente templo foi erguido há muitos séculos e também foi ali que começou Paris, o marco zero.

Ao avistar ao longe aquele símbolo sacro, o tempo era um mero detalhe. Eu iniciava a realização de um desejo que povoou minha infância e os longos anos da juventude, repletos de delírios imaginários dos filmes onde aquele cenário da catedral e do mítico Corcunda de Notre Dame se fazia real nas minhas fantasias infantis. A cada passo, a cada respirar ofegante, a impressão que emoldurava diante de mim era de que nada mais havia ao redor a não ser o deslumbramento visual de uma paisagem que saltava dos filmes que vi e se faziam reais. Eu chegava diante da Catedral de Notre Dame e aquilo era real, por mais que me beliscasse, meus olhos não viam nada além daquele templo.

Entrei curiosamente por detrás da catedral e vislumbrei lentamente toda arquitetura e os jardins floridos que circundam os pés da catedral. Não medi esforços em recordar que esse cenário foi todo dedicado à Virgem Maria, uma das catedrais góticas mais antigas do mundo.

Construída entre 1163 e 1245, na Île de la Cité,  em seus oito séculos de história, a Catedral de Notre Dame foi reformada em várias ocasiões, sendo a mais importante em meados do século XIX. Ao longo desses anos foram substituídos os arcobotantes, foi incluída a rosácea sul, as capelas foram reformadas e foram incluídas estátuas. Em Notre Dame foram realizados importantes acontecimentos, entre os quais vale destacar a coroação de Napoleão Bonaparte, a beatificação de Joana D’Arc e a coroação de Henrique VI da Inglaterra.

Ao cruzar a porta central, um som sacro parecia sair de um distante mundo imaginário. Meu olhar guardou para sempre aquele lugar que como eu sempre desejei conhecer. Pude, de fato, vislumbrar.

Com muita tristeza, anos depois, no fatídico dia 15 de abril de 2019, em segundos, a internet divulgou ao mundo que a catedral se consumiu em chamas…meu tempo parou e pude revirar as minhas lembranças e lamentar a perda de algo que acreditei ser eterno. Mas, ao menos eu vivi para respirar o ar angelical da catedral mais visitada do planeta.

Ricardo Zimmer – Cineasta de Dona Francisca

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